A médica oftalmologista Dra. Fernanda P. Magalhães explica sobre os tipos de cirurgias refrativas que usam laser.
A cirurgia refrativa compreende os procedimentos cirúrgicos que têm por finalidade diminuir e, se possível, eliminar os erros de refração (miopia, hipermetropia e astigmatismo), diminuindo a dependência dos óculos. Existem duas principais técnicas cirúrgicas relacionadas com a aplicação do laser na córnea: a PRK (ceratectomia fotorrefrativa) e a LASIK (Ceratomileuse in situ assistida por laser). Ambas as técnicas são consideradas seguras em candidatos selecionados.
A avaliação pré-operatória do paciente candidato à cirurgia refrativa deve ser completa e rigorosa. Inclui a medida da acuidade visual sem óculos e com óculos, exame do grau (realizado sem dilatar e após a dilatação pupilar), medida da pressão intraocular, avaliação do filme lacrimal, exame da movimentação dos músculos oculares e avaliação do segmento anterior do olho e do fundo de olho. Além disso, é necessária a realização de exames para avaliar a superfície e curvatura corneanas e a espessura da córnea.
No caso de cirurgias personalizadas é realizado o exame de aberrometria (para avaliar as aberrações oculares) pré-operatório. É com base nesse conjunto de exames que se pode avaliar se um paciente é ou não considerado um bom candidato para a realização do procedimento cirúrgico e determinar qual a melhor técnica indicada para cada caso.
A técnica do PRK consiste na aplicação do laser na superfície corneana, não existindo cortes. O epitélio da córnea, a camada mais superficial, é removido (raspado). Após a remoção desse epitélio, o excimer laser (laser que faz a remoção do grau) é aplicado. Ao final da cirurgia é colocada uma lente de contato terapêutica que é removida após cerca de cinco a sete dias da cirurgia. O PRK pode estar associado com algum grau de desconforto passageiro no pós-operatório inicial e a recuperação visual um pouco mais lenta. A complicação mais relacionada ao PRK é o risco de desenvolvimento de uma opacidade corneana (haze) que pode estar relacionada à regressão parcial do erro refracional e a graus variáveis de diminuição da acuidade visual.
Com o objetivo de diminuir tal complicação, foi adicionada à técnica operatória a aplicação de uma substância chamada mitomicina C, tópica, no final da cirurgia, em pacientes com graus elevados e naqueles que apresentam um risco maior de desenvolver haze. O uso da mitomicina C tem permitido a indicação do PRK em pacientes com graus mais elevados, com maior segurança.
A confecção do flap pode ser feita de duas maneiras. Com o microcerátomo (lâmina) ou, de forma mais moderna, o flap pode ser confeccionado através de um laser chamado femtosegundo. As vantagens do LASIK são a rápida recuperação visual e o menor desconforto no pós-operatório inicial. Dentre as complicações exclusivas relacionadas a essa técnica estão aquelas descritas no momento da confecção do flap. Por este motivo, a cirurgia pode ser interrompida e o paciente geralmente pode ser reoperado após um período de 60 a 90 dias. A taxa de complicações relacionadas com a confecção do flap é teoricamente mais baixa quando realizada através do laser de femtosegundo. Tanto com o PRK quanto com o LASIK (com microcerátomo ou com femtosegundo), os resultados são bons, na grande maioria dos pacientes.
Os cuidados pós-operatórios incluem o uso de colírios de antibiótico e anti-inflamatórios, comparecimento às visitas regulares de revisão médica, evitar exposição aos raios solares e banhos de mar e/ou piscina. Geralmente, cerca de cinco a sete dias após a cirurgia, os pacientes já estão aptos e liberados para realizar suas atividades laborativas. Os dois olhos podem ser operados no mesmo dia ou em dias separados, a depender de preferências do cirurgião e do paciente.
Alguns pacientes podem apresentar sintomas de olho seco no pós-operatório da cirurgia refrativa, que, na maior parte dos casos é tratado apenas com o uso de lubrificantes (lágrimas artificiais) tópicos. A ectasia corneana é uma rara complicação descrita após a cirurgia refrativa, na qual a córnea sofre algumas deformações e fica mais fina do que o normal. Em pacientes que fazem o acompanhamento regular com o médico oftalmologista, essa rara complicação pode ser diagnosticada de forma precoce, podendo ser tratada com a aplicação de um laser chamado cross-linking (para fortalecer a córnea) que visa evitar a piora do quadro.
A cirurgia refrativa é uma das cirurgias mais realizadas no mundo, tem um baixo índice de complicações, quando bem indicada pelo médico oftalmologista e quando há a devida colaboração dos pacientes com os cuidados pós-operatórios. Com o avanço da medicina, as técnicas de cirurgia refrativa têm-se tornado cada vez mais seguras. Porém, como todo procedimento cirúrgico da área médica, existem algumas complicações descritas, que, quando adequadamente conduzidas, não trazem danos à visão na grande maioria dos pacientes
Autora:
Fernanda Pedreira Magalhães / CRM BA 18878